quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

VER PARA CRER - O que disse a Administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central?



VER  PARA CRER......





....A ADMINISTRAÇÃO DO CENTRO  HOSPITALAR  DE LISBOA CENTRAL INFORMOU  O PROJECTO  DO FUTURO HOSPITAL DE TODOS OS SANTOS ...SE DESENVOLVE A BOM (?!) RITMO.... 



 Ouviu-se dizer , que numa tarde de 5ª Feira do passado mês de Novembro, houve lugar  na sala de conferências do Hospital D. Estefânia   uma   reunião entre o Conselho de Administração  do Centro Hospitalar de Lisboa Central  e os coordenadores de área e os profissionais,  que  acaso foram informados.



Nesta  reunião,  entre outros assuntos ,  deu-se conta aos presentes  de  que  os trabalhos   para a construção do futuro Hospital de Todos os Santos estão em fase adiantada e correm de boa feição e que o inicio da sua construção seria  já  para breve.  Noticiou-se ainda  que  o respeito pela especificidade  pediátrica , neste novo  projecto ( presume-se, que,  comparativamente ao anterior)   “seria melhor  acautelada”.



  È de conhecimento geral que  o concurso anterior , organizado nas suas fases iniciais  pelo Sr.   Pedro Dias Alves , engenheiro  e gestor,   representando pelas PPP, nomeado por  Manuel Pinho ( ex gerente do BES Angola) ,   foi depois  anulado devido a “irregularidades e vicissitudes processuais”

Recordamos que o prejuízo  ao erário publico , resultante daquele   concurso anulado, e que se admite ,dispendioso,  nunca  foi contabilizado  e ou   apuradas  responsabilidades.



O Plano Funcional  do projecto ilegalizado , tinha sido posto a discussão de forma “ semi publica ” .

Na sua versão inicial  a sua chancela era  da multi nacional Intersalus. (desconhecendo-se se houve  concurso publico que formalizou a concessão  do projecto  aquela multi nacional  e o valor da  factura apresentada) .  



Para a consulta   publica,  do Plano Funcional,   foi apresentada  apenas numa  versão em papel e esta  restringiu-se  a um gabinete do C.A., sujeita a  identificação prévia   e  em horários  coincidentes com os de trabalho no Hospital.

Apesar destas condicionantes ,  vários   profissionais não desistiram e constataram  falhas  grosseiras no  que diz respeito ao  ambiente  e especificidade pediatricas, existindo  promiscuidade  em áreas cruciais no atendimento entre doentes adultos e crianças.

 Naquele plano o  “Ambiente Pediátrico constava como um  apêndice de  ultima hora procurando assim disfarçar as criticas da Plataforma Civica .   
Todo este processo encontra-se  documentado em  artigos  anteriores neste  Blog e no  Jornal da Plataforma Cívica em Defesa do Hospital Pediátrico de Lisboa a “Estefânia”.

Estranhamente, a seguir  criticas  de que foi alvo e da demissão de António Correia de Campos;  eis  que  já  sem a  chancela da InterSalus,  o mesmo plano , surge com um  carimbo desprestigiante de “provisorio” , e agora já  com direito a   consulta  publica no Site do Ministério da Saúde. Este percurso sinuoso sugere " incomodo ” por parte do Ministério da Saúde  relativamente a forma como foi elaborado e  arbitrariamente imposto ,  o que se veio  posteriormente a confirmar com a  anulação do concurso.

Seria  de esperar o  aborto natural daquele "projecto" , pois  nasceu defeituoso e órfão da  contribuição critica e organizada dos  profissionais de D. Estefânia  e a sua  discussão foi  um mero   pró - forma em  cumprimento das  disposições legais .

 O  pressuposto essencial que se realça da leitura atenta ,    e o de  uma  lógica de Hospital Privado , com  indiferenciação de espaços , competências e  equipamentos , de forma a garantir o lucro máximo. um projecto conduzido pelos representantes  e em  acordo com os interesses das PPP. Tal não seria de estranhar devido ao Currículo profissional do seu principal organizador. È peculiar e eticamente  inaceitavel  que em  nosso País,  os governos / politicos / partidos ,  nomeiem os representantes privados  para  a condução dos    projectos  de interesse Publico , e  que os organizam a sua medida , quando deveria ser exactamente  o inverso.


O  Hospital Pediátrico autónomo foi assim sumariamente banido daquele  projecto pois  colidiria  com a contabilidade  futura dos privados , o que  esperamos..... , não se venha a repetir com o próximo.



O  mais desolador de tudo,  é que aquele  projecto , tem  como corolário uma agenda infeliz, que vivenciamos no dia a dia ,  e  que se  concretiza  numa  pré  adaptação  “a força “  ao   futuro projecto redutor de um Hospital Generalista que se projecta no futuro HTS e   em que se procede a   destruição sistematizada com a  diluição dos Serviços do  Hospital Pediátrico de Lisboa no  Centro Hospitalar  de Lisboa Central .

 Fazendo fé de uma opinião pessoal,  mas que  sei que é  partilhada pela maioria dos profissionais  , considero   que esta acção é consequência de  conceito genérico e  abstrato  mal assimilado  e limitado  de  “rentabilização”   e  que serve de  justificação, para  implementar desde  já  a  utilização nos  Serviços  transversais dos  equipamentos  pediatricos por adultos ( ou vice verça) . 

Citamos a titulo   exemplo,  entre outros, a   urodinâmica e  imagiologia  e ainda  a  compra de material não adaptado a pediatria ( como ouve-se de  muitos colegas) .  Agradeço (emos) que nos corrijam se em desacordo.
Rentabilizar, numa visão estratégica, que não a do pequeno "merceiro" significa ao  contrário, diferenciar ,  criar excelência para não se desperdiçarem  recursos.  
Indagamos assim  se não seria mais lógico procurar esta rentabilização  com a  criação de redes de referenciação do doentes pediatricos da zona sul para o Hospital HDE  como  Centro  Terciário de atendimento pediátrico de  / novo Centro Materno Infantil  /Hospital Pediátrico de Lisboa  de acordo com uma  nova carta Hospitalar em que deveram constar os Centros e Redes de Refêrencia , nas quais caberá ao Hospital D. Estefânia assumir o  seu papel histórico, na area Materno Infantil , de acordo com o legislado na  Portaria nº 123-A/2014  de 19 de Junho do Ministério da Saúde.

A justificação da existência de um Hospital Pediátrico na capital do País é  de senso comum como mais uma vez  reitera o Professor Gentil Martins no seu artigo Publicado no Jornal o Publico do dia 6 de Dezembro de 2014 e transcrito na integra no artigo anterior do BLOG 

Em minha  opinião e  como foi já  informado por escrito noutra ocasião  aos responsáveis,  esta   “integração / descaracterização ”  forçada do HDE,  tem decorrido  sem o devido   esforço   preocupação no  respeito   das normas  de Acreditação Internacional que o Conselho de Administração voluntariamente se submeteu  e que  obriga a circuitos de circulação separados entre adultos e crianças.



 Aceitando como valida a justificação da  necessária  rentabilização dos aparelhos de diagnóstico com alto valor acrescentado,  e subtendo-nos   numa lógica de "mal menor" , alertamos para  que pelo menos  não se  des respeite e falte-se a palavra assinada nos compromissos assumidos com Entidade Acreditadora no  cumprimento  as regras internacionais . 






Haverá  que esclarecer que  esta analise  não  tem por pressuposto  qualquer sentimento individualista e isolacionista . Considera-se  uma mais valia adquirida ,  a  colaboração agora  mais próxima  , inter pares  entre os Serviços / Profissionais e  Especialistas que se dedicam aos adultos e as sub especializações pediatricas  respectivas.    Note-se  que   as sub especialidades pediatricas,   são reconhecidas  internacionalmente ( a titulo de exemplo e  entre outras :  cardiologia, psiquiatria , neurologia , a cirurgia e  urolologia , nefrologia, fisiatria e radiologia;  etc.   pediatricas..) e que obrigatoriamente,  se deverão  manter individualizadas nos Serviços.  no contexto de um futuro  Centro Hospitalar com  Hospital Pediátrico autónomo,  como acontece na generalidade das capitais europeias.


Haverá aqui que  abrir um parênteses para enaltecer e agradecer  a atitude de  profissionais do CHLC,  que as criticando e contrariando  , procuram   mitigar os efeitos destas medidas.  Os conhecendo , sabemos que não agiriam  doutra forma,  pois jamais  hipotecariam  a dignidade  e ética da classe médica  que os caracteriza  por  conveniências pessoais, circunstânciais  ou  interesseiras.




Na mesma ordem de ideias não poderiam-nos  deixar de nos   regozijar  com noticia veiculada pela  Administração  do Centro Hospitalar,  que finalmente parece ter prevalecido interesse público e da  assistência pediátrica  terciária (que no mundo civilizado, nos grandes centros populacionais,  se concentra  nos Hospitais Pediátricos).
Fazendo fé neste novo espírito , solicitamos  que se  reformulem  e abandonem de imediato as medidas de descaracterização do HDE  até  a data   implementadas. Esperemos igualmente que esta " pressa" não tenha os mesmos objectivos interesseiros das do concurso anterior  ( nota 1)

Infelizmente,  temos todas as razões desconfiarmos  das   frases desprovidas da  realidade que nos habituaram muitos dos nossos governantes e responsáveis,  e  que já  os  estigmatizou . Para  crer  nestas boas novas ,  aguardamos  que o Ministro da Saúde ,  no  cumprimento  dos preceitos legais que deve  fazer cumprir,  leve  com urgência  a   discussão publica   o novo Plano Funcional e  arquitectonico  com  as referidas alterações  de forma a  recolher a opinião dos  profissionais.

 Não se trata de nenhum procedimento extraordinario, mas corrente no mundo civilizado , e apenas  sugerimos  que  Sr.   Ministro da Saúde, Paulo Macedo ,  se inspire no exemplo dos Governos de  outros países cultos ,  como o ainda recente  da Irlanda, em  que para alem de estar a construir um novo Hospital Pediátrico em Dublin ( ao invés de destrui-lo),  zelou para que os seus  Projectos Arquitetonico e   Plano Funcional  para alem de  públicos fossem enriquecidos com  o contributo dos seus profissionais . O argumento do acrescimo de   "custos", no  contexto do que  tem sido  desviado  dos nossos impostos "para  os bancos falidos, não é aceitável. 
 ( Nota 2)








Agir em contrário,  pensamos que é  processualmente condenável,  e  deixará  um campo em aberto para as  duvidas que ensombraram   o concurso  anterior em que pensamos  prevaleceu em que  conflito de interesses em favor dos grupos financeiros privados ligados a saúde,  em detrimento do Interesse Publico e por maioria de razão o  da Pediatria e das  crianças  portuguesas.


Os impactos sociais são a melhor justificação para o SNS, uma vez que uma população  saudável “ representa o principal  activo  de uma comunidade “
Elogio da razão em tempos difíceis  - autor - Cipriano Justo



Nota 1:
Para a pressa de iniciar o concurso  contribuí  os cerca de 400 milhões de euros emprestados pelo Banco de Investimento  ao consorcio  que ganhar o concurso a juros residuais  e que aos contribuintes custarão encargos de 10% na renda a PPP .  Mas ainda  haverá a contabilizar os lucros   com   apropriação  do património imobiliário dos antigos hospitais e sua  transformação dos seus espaços  em condomínios de luxo como foi  denunciado numa serie de debates sobre a Colina de Santana na Camâra Municipal de Lisboa por  iniciativa da Arquitecta Helena Roseta.  
Em uma opinião pessoal, indago se não seria melhor, como  dizem que sugeriram os  Suecos num  estudo antigo sobre a reorganização da rede hospitalar de Lisboa ,   a opção de  construir o novo Centro Hospitalar de Lisboa Central , ao invés  de no Vale  Chelas , no espaço do actual Hospital de Curry Cabral. Aquele espaço , para  alem de bons acessos tem  relações de   proximidade como o conjunto dos  antigos Hospitais de Lisboa Central.  Aqueles Hospitais, ao invés de vendidos,  deveriam, para alem de outras utilizações, continuar  a prestar Serviços de Saúde complementares ( rectaguarda, serviços continuados, etc)
 Esta opção será  a unica  que permitiria continuar a    dar  vida  e não descaracterizar o Centro Historico de Lisboa  que na  actual opção será transformado num mero dormitório para ricos. 
 Um povo  que é culto mantem  a identidade dos espaços e cidades preservando a sua história no presente. Assim procedem os  outros povos europeus que não desbaratam  a  riqueza material e imaterial em troca “de uns tostões” que depois se evaporam nas Off shores.   Esta opção estará  fora do horizonte  do espirito  meramente mercantil  que formata as  actuais opções  e que  tudo indica se encerram num circulo especulativo coerente  e  bem planeado entre os interesses  os financeiros imobiliarios e os ligados a saúde,  como  alias, foi veiculado naqueles debates.  
Não nos esqueçamos igualmente que   se  por um lado que o Vale de Chelas , onde esta planeado  construir o novo Hospital é uma area de risco sismico alto /elevado, o que devia ser ponderado,   por outro ,  que o Turismo  é das poucas riquezas que  ainda nos resta   e que descaracterizar Lisboa Histórica como se propõe é um crime cultural /urbanistico com que não deviamos  pactuar. 
Em conclusão penso que  todos nos deviamos indagar   , se a nossa passividade , não será considerada  imoral pelas futuras gerações , ao termos permitimo a defraudação de um Património  ,  que é também era de sua pertença.( Ver no Blog debates sobre " Colina de Santana")




Nota 2
O orçamento para construção do  novo Hospital  Pediátrico de Dublin é de cerca 40 milhões de Euros. O alegado prejuízo ao Estado quando da  Gestão do Hospital Amadora Sintra pelo Grupo Mello  (de que fazia parte o  Engenheiro Pedro Dias Alves  ,  foi dizem alguns   de 45 milhões de Euros.  Na leitura destes números, haverá   quem  possa   afirmar que  não há dinheiro para se  construir de um novo Hospital Pediátrico em  Lisboa?
Infelizmente  ….parece-nos que existem seres humanos capazes de  tudo.....




As nossas crianças merecem que acreditemos  no seu direito a terem um  novo Hospital Pediatrico em Lisboa !


Assina : Pedro Paulo  M. A. Mendes / Médico -Cedula Profissional 21489 - SRS - O.M: Iconografia Jornalista Manu

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