domingo, 29 de junho de 2008

A Adaptabilidade e Humanização das Construções Hospitalares




O hábito faz ou não o monge?!!!
O desenho publicitário do futuro Hospital de Todos os Santos divulgado na Internet sugere uma "caixa azul com uma gravata cheia de números".
Qual a adaptabilidade de um edifício monobloco?






Outro paradigma " Hospital Pediátrico de Darmstad "- Edifícios geríveis e humanizados!
Hospitais que servem a população e a criança. Sensibilidades que consideram que ambiente e arquitectura fazem parte do tratamento.







A opção multi modular favorece a adaptabilidade!





Sala de quimioterapia de outro Hospital Pediátrico. Não se trata por certo de um Hospital em que o ambiente pediátrico depende de biombos!







ARTIGO DE OPINIÃO

"A ADAPTABILIDADE E HUMANIZAÇÃO DAS ESTRUTURAS HOSPITALARES"


No filme ficcionado apresentado em 4 de Junho no auditório do H.D.Estefania sobre o futuro H.T.Santos, frisou-se como qualidade intrínseca a sua “ adaptabilidade “.
Sem pretensões a juízos definitivos expomos um ponto de vista crítico sobre a contradição entre “adaptabilidade” e um mega edifício monobloco.
Os equipamentos hospitalares devem dar a melhor resposta não só às necessidades actuais mas também às previsíveis num horizonte temporal de cerca de 20 anos.
Numa época de grandes mudanças em que a evolução tecnológica é exponencial e as variáveis imprevisíveis, é obrigatório incorporar no plano arquitectónico das construções hospitalares uma plasticidade adaptativa que contemple as possibilidades de evolução de forma a procurar contrariar a rápida obsolência.
Este conceito, simples regra de bom senso, referido em todos os manuais modernos, faz parte dos pressupostos do plano funcional do futuro Hospital de Todos os Santos como Hospital Moderno que se ambiciona.
No plano vigente, e que vivamente criticamos, este é apresentado como um mega edifício monobloco, tal qual o antigo Hospital de Todos os Santos em que historicamente se inspiraram (ver artigo no Blog) e mais modernamente nos mega edifícios da era Hospital Tecnológico da décadas entre 20 e 50 do século passado desenvolvidos nos E.U.A.

Com vista a melhor explicar estes conceitos recorremos a literatura especializada e transcrevemos alguns excertos do artigo:


“ Do Hospital Terapêutico ao Hospital Tecnológico”
(fórum sobre arquitectura hospitalar)

-inicio de citação –

“ O advento da antibioterapia e o domínio da tecnologia do concreto armado e a fabricação de elevadores com maior velocidade e capacidade de carga estimulavam a adopção de um partido vertical, capaz de diminuir de forma drástica os longos percursos impostos, principalmente aos médicos e enfermeiras, pelos intermináveis corredores dos hospitais pavilhonares. Construídos na década de 20, organizavam as funções hospitalares em cinco sectores básicos: no subsolo os serviços de apoio, no térreo os consultórios médicos, o pronto atendimento e o serviço de raios X (então chamado de eletromedicina), no primeiro andar o laboratório e os serviços administrativos, nos pavimentos intermediários as áreas de internamento, no último o bloco operatório.
O sótão era usualmente ocupado pelos residentes médicos e de enfermagem (Miquelin, 1992:54).
O novo modelo incorporava duas importantes inovações tecnológicas na construção de
Edificações: o uso do concreto armado e de elevadores (Mumford, 1961; Foucault, 1979
Benchimol, 1990; Gordon, 1993).”

“As tentativas de humanização do atendimento hospitalar podem ser encaradas como uma reacção recente à hegemonia do hospital tecnológico e vêm sendo levadas a efeito com diferentes graus de profundidade e abrangência:

. Inicialmente, pela própria negação do hospital tradicional, em prol dos hospitais dia e da utilização crescente das técnicas de home-care, mediante as quais as facilidades tecnológicas, anteriormente restritas ao ambiente hospitalar, são levadas às residências dos pacientes.

. Mais recentemente com o surgimento de diversos movimentos que propõem a humanização do ambiente hospitalar, melhorando as condições de conforto para pacientes e acompanhantes, ora através de uma maior atenção às áreas de espera, consultórios, enfermarias e descanso de funcionários, ora pela adopção de tratamentos arquitectónicos diferenciados, inclusive no que se refere ao uso das cores, especialmente nos hospitais infantis, maternidades e hospitais geriátricos, nos quais os espaços começam a ser tratados de forma a reproduzir, sempre que possível, o ambiente familiar.

Finalmente, em um outro patamar, mais evoluído, estão outras propostas recentes que defendem para a edificação hospitalar um papel mais relevante no processo de cura de seus pacientes, buscando uma maior integração entre as práticas e procedimentos médicos e os espaços que lhes são reservados. “
Fim de citação

(Sublinhado nosso)



Para além de todos os inconvenientes (dificuldade na gestão administrativa, dificuldade no combate de catástrofes, desumanização dos grandes espaços etc.), estes grandes edifícios couraçados estão intrinsecamente desprovidos de capacidade de adaptativa.

É intuitivo que apenas uma concepção arquitectónica que contemple edifícios diferenciados e multi módulos pode comportar intrinsecamente esta leveza e adaptabilidade, humanidade e o ambiente pediátrico.

Tal predicado atribuído ao HTS,de acordo com plano funcional em vigor que o caracterizou como um Hospital Tecnológico e Monobloco,não é exequível.
Para além desta lógica intuitiva salienta-se que esta concepção multi modular é a única que permitirá a existência de um Hospital Pediátrico plenamente diferenciado em Lisboa, pela qual 76.000 portugueses já se mostraram inequivocamente a favor.

Esta nossa percepção foi analisada por uma apoiante com conhecimentos técnicos e que, não se referindo especificamente ao futuro HTS, escreveu:


“Ressalvando o facto de não me dedicar a este tipo de projectos e portanto com carácter genérico e eventualmente desajustada a situação particular, a questão da flexibilidade e adaptabilidade serão sempre melhores, num esquema multi-módulos de menor altura do que num monobloco mais alto, pelas maiores possibilidades de aumentar o número de edifícios nos interstícios, desde que essa expansão eventual esteja pensada e programada num plano que preveja, no mínimo, espaços verdes
entre edifícios onde se possa ter área suficiente para num primeiro momento usufruir de alguma paz e num segundo momento se possa construir um edifício com área suficiente para justificar o investimento.
De outra forma, todas as intervenções de acrescentos acabam por ser anexos ou apêndices, geralmente com carácter "provisório" pois é visível que não poderão apresentar as melhores condições, mas que acabam por se prolongar no tempo”


Fim de citação

Ao sermos frontais assumimos a possibilidade de incorrermos em erro. Sem turbulência não há mudança!

Enviem outras opiniões, corrijam-nos!




Antigo Plano funcional!



Local


Nota final: Temos informações que o plano funcional actual foi substituído por outro em que serão construídos vários edifícios de oito andares.
Indaga-se, caso verdade, porque estes planos não são divulgados?


Assina : Pedro Paulo Machado Alves Mendes
Médico Radiologista Hospital D. Estefânia - Lisboa

Sem comentários: